Há cerca de quatro meses o Brasil saiu do mapa da fome, de acordo com as Nações Unidas para Alimentação e Agricultura-FAO, que determina a sua erradicação nos países que atingem o percentual de apenas 1,7% pessoas em insegurança alimentar por todo território nacional.
Infelizmente, pouco tempo depois, descobriu-se que a miséria voltou a crescer no país pela primeira vez em dez anos, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no qual se vê um crescimento da pobreza na casa de 3,68% em 2013.
Esses dados são também corroborados pela última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada em outubro, o qual demonstra que após uma década da queda nos índices de pobreza houve aumento da população de miseráveis de 6,1% para 6,2% no período de 2013 a 2014. Dados da Comissão Econômica para Latino América e Caribe-CEPAL, recém-divulgados, mostram já uma evolução de 5,4% para 5,9% entre 2012 e 2103.
Independentemente das metodologias de aferimento, o que vale é a tendência de piora. Isso significa que cerca de 420 mil pessoas tornaram-se miseráveis no último ano, juntando-se a quase 13 milhões que já ocupavam essa triste estatística.
Dentre todas as regiões a que mais chama a atenção é a Sudeste que apresentou o maior crescimento no número de indivíduos abaixo da linha da pobreza, que antes eram 18,3% e agora são 20,6%, segundo levantamento realizado pelo Instituto de Estudo do Trabalho e Sociedade (IETS).
Principais razões para a queda
Atualmente o governo federal tem como carro chefe para o enfrentamento da extrema pobreza o Brasil Sem Miséria, programa lançado pela presidente Dilma Rousseff em junho de 2014.
Seus objetivos são a garantia da renda, especialmente por meio do Bolsa Família, acesso amplo a serviços públicos como educação e saúde e a inclusão produtiva, voltada para a capacitação de trabalhadores com pouco ou nenhum espaço no mercado. Pelos resultados alcançados, a qualidade desses programas parece não atender plenamente às demandas da população almejada. É sabido que a deficiência e a fraqueza da nossa educação é um dos pontos chaves para a atual perda de produtividade e competitividade da nossa indústria, extremamente impactada pela falta de mão de obra qualificada.
Um dos fatores com grande peso para essa interrupção da melhora na vida dos excluídos é provavelmente a estagnação na economia nacional, então vetorizada para o consumo das classes emergentes, que acabou trazendo consequências trágicas para os mais vulneráveis e excluídos.
Enquanto a taxa de desemprego de 4,9% é considerada uma vitória e alardeada como um troféu olímpico para as outras classes, a dos miseráveis se vê profundamente atingida, já que os índices de desemprego para eles só sobem, sendo de 25,5% em 2012 e chegando a 30,4% em 2013, de acordo com o IETS. Um detalhe importante: sem publicidade por parte do governo federal, cerca de 47% da população economicamente ativa não trabalha, não estuda e nem ao menos procura emprego. Assunto já comentado anteriormente quando fica evidenciado quem paga a conta.
Além disso, na extrema pobreza a informalidade é regra: o mesmo levantamento afirma que 96% dos miseráveis não tem nenhuma proteção social. É imprescindível, portanto, que o governo que se inaugura seja capaz de alavancar a economia, questão preliminar, permitindo que os mais pobres saiam da situação de risco a qual estão submetidos. Também é fundamental atingir as áreas rurais mais isoladas, e mesmo as urbanas periféricas, totalmente desatendidas, onde se concentram os miseráveis que até mesmo as intervenções públicas ainda não foram capazes de alcançar.
Isso apenas, para tirar aqueles que estão em situação de extrema miséria. Para virar este jogo e tornar a economia do país mais forte, muitas mudanças precisam acontecer. Mas acima de tudo, é necessário ter competência para implementá-las. O que nestes últimos tempos, para desolação não só dos desvalidos, mas também de todos aqueles que não pensam apenas nas benesses do imediatismo eleitoreiro para a perpetuação no poder a qualquer custo, não tem ocorrido.