A falta de profissionais qualificados no Brasil


Há razões de sobra para o mundo corporativo ligar o sinal de alerta. No mundo, 36% das empresas relataram em 2014 a escassez de talentos. É uma porcentagem preocupante, a maior em sete anos, segundo pesquisa realizada pelo ManpowerGroup.

De acordo com essa pesquisa, trabalhadores em profissões de ofício, engenheiros e técnicos ocupam os três primeiros lugares em escassez no mundo. A pesquisa mostra também que mais da metade (54%) dos empregadores dizem que o impacto dessa escassez é grande e atrapalha a habilidade de atender às necessidades dos clientes, a competitividade e a produtividade.

No Brasil, não é exagero afirmar que esse sinal já está ligado. O país ocupa o quarto lugar em escassez de mão de obra qualificada, com porcentagem de 63%. Está atrás apenas do Japão (81%), Peru (67%) e Índia (64%).

Em outra pesquisa divulgada pela Fundação Dom Cabral no início deste ano os números são mais assustadores. Cerca de 91% das empresas enfrentam dificuldades para encontrar profissionais.  A falta de capacitação e as deficiências na formação básica são os principais motivos para as barreiras na hora de contratar.

A baixa qualidade de ensino é outra razão apontada por especialistas para a falta de mão de obra qualificada no Brasil. A economia do país cresceu, mas a educação não acompanhou esse desenvolvimento. São comuns os relatos de empresários sobre a dificuldade de ensinar novas técnicas ou manuseio de máquinas avançadas aos funcionários.

Há também a questão da falta de conexão entre o setor educacional e os grupos empresariais. Como consequência, há jovens que saem das escolas com formação que não atende exatamente as exigências do mercado de trabalho. Assunto este que foi um dos temas da mesa redonda com Richard Richard Lapper, editor do LatAm Confidential, do Financial Times, e dirigentes das Instituições de Ensino Superior de Uberlândia que realizada nesta semana, no âmbito do Paranaiba Connect, evento concebido por esta Consultoria em parceria com a TV Paranaiba e apoio da Aciub.

O cenário provoca situações como a existente em estados menos desenvolvidos, que poderiam apresentar melhores índices de crescimento, caso pudessem contar com maior número de mão de obra qualificada.

Outra situação é a de transferência de trabalhadores de algumas regiões para outras dentro do país, criando verdadeiras cidades operárias improvisadas.  Em Pernambuco, por exemplo, a falta de profissionais qualificados provocou nos últimos anos uma migração de operários de outros estados para trabalharem na construção da Refinaria Abreu e Lima e na Petroquímica Suape

Não é tarefa fácil encontrar soluções para o problema. No Brasil, no curto prazo, muitas empresas já investem na retenção de profissionais por meio de criativas formas de compensação ao trabalho realizado, seja ofertando melhores salários ou investindo na qualificação e valorização de talentos em potencial.

Em longo prazo, esperam também mudanças no ensino, com universidades mais comprometidas com a empregabilidade e a valorização de escolas técnicas bem estruturadas, que efetivamente proporcionem a entrada rápida de mão de obra qualificada no mercado.

De toda forma, o problema já está evidente e mudanças no cenário devem demorar a surtir efeito. Enquanto isso, o mercado clama por socorro e tenta se virar como pode para sobreviver enquanto mudanças estruturais em toda a cadeia do sistema educacional não acontecem por falta de propostas concretas dos governantes. Cabe a nós cidadãos tomar iniciativas efetivas de atuar junto àqueles que foram eleitos para que cumpram com as promessas de campanhas. É preciso agir, pois como disse Gracián, pensador e filósofo do século XVII, a liberdade consiste em fazer o que se deve fazer.