Há alguns anos, a internacionalização das empresas se tornou uma realidade em nosso país. Se antes era comum o fato de grandes empresas virem para o Brasil, hoje acontece o inverso e muitas instituições nacionais abrem filiais ou adquirem empresas no exterior. O fato, que tem se tornado comum abre espaço para o surgimento e expansão de várias carreiras profissionais, como a do diplomata corporativo.
Antes restrito ao Itamaraty, o diplomata corporativo tornou-se peça chave numa economia globalizada, na qual são constantes as negociações internacionais, sejam em empresas privadas, ONGs, agências governamentais e consultorias.
Um exemplo da atuação do diplomata corporativo no âmbito público pode ser vista nos blocos econômicos. Recentemente, o Mercosul e a União Europeia (UE) estavam em processo de negociação para criar uma área de livre-comércio entre os blocos. Em virtude das eleições no Brasil, resistência dos países europeus e proximidade da troca de comando na UE, as negociações emperraram.
O processo ocorreu com ofertas de cada lado e exigiu a presença de especialistas na arte de negociar. Até porque o Brasil ampliou as suas barreiras protecionistas em 2013, fato que desagradou bastante os países da UE.
Outro exemplo de grande repercussão ocorreu durante a fase preparatória da Copa do Mundo de futebol realizada recentemente aqui no Brasil. O governo federal sistematicamente não vinha cumprindo junto à FIFA os cronogramas das obras de infraestrutura, tanto na construção e reforma dos estádios quanto às questões de mobilidade urbana e aeroportuária, decorrente de sua incapacidade executiva já bem conhecida de nós brasileiros. Os responsáveis pelo comitê gestor do evento, acostumados ao profissionalismo como um tema de tamanha envergadura é tratado por todos os países que se propõem a sedia-lo, após inúmeras inspeções e reiteradas promessas não cumpridas pelas autoridades nacionais, inclusive ministros, perderam a paciência levando o secretário geral da entidade promotora da Copa do Mundo a usar da expressão popular que o Brasil merecia era “um pontapé no traseiro” para se mexer e tomar uma atitude mais séria de forma a cumprir com os compromissos assumidos. Evidentemente que o governo brasileiro se sentiu ultrajado e o assunto ocupou as manchetes da mídia internacional e estremeceu as relações entre as partes. Requereu-se um grande esforço diplomático para repor as coisas nos eixos.
Nos dois casos, percebe-se a necessidade de um diplomata corporativo, que saiba lidar diretamente com negociações internacionais, que tenha conhecimento para tomar decisões, planejar e executar. Mas, que acima de tudo venha atuar de forma preventiva avaliando riscos e assessorando na estratégia a ser adotada em cada caso. Além disso, o diplomata precisa estar apto para lidar com questões que envolvem fatores políticos, culturais, organizacionais, financeiros e diplomáticos.
Hoje, no Brasil cerca de 70% dos diplomatas trabalham com relações governamentais. Os outros 30% não conseguem atender a demanda das nossas empresas que pretendem investir no exterior. E a previsão é que o mercado nessa área continue aquecido. Segundo uma pesquisa da Goldman Sachs, em 2040, o PIB dos países que pertencem ao grupo dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) será o mesmo dos países desenvolvidos. Um dos motivos desse crescimento será a internacionalização das empresas tornando-as verdadeiras transnacionais.