Capacidade de mudança e adaptação é uma das principais características para a sobrevivência das empresas no mercado. A crise de 2020, por exemplo, causada pela pandemia do novo coronavírus em todo o mundo fez com que as empresas se movimentassem e buscassem outros nichos de mercado para atender. O reflexo disso será visto ao longo do tempo, nos próximos meses e sentida ainda nos próximos anos.
Este movimento é chamado de internacionalização das empresas. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que em 2016, no auge da crise econômica, houve um crescimento de procura pela exportação de produtos e serviços em 16 dos 27 estados brasileiros.
Isso fez com que estados que antes tinham pouca representatividade no comércio exterior tivessem aumentos expressivos. Roraima, por exemplo, havia exportado em 2015 pouco mais de US$ 2 milhões, e em 2016 o montante subiu para mais de US$ 13 milhões. Um crescimento de mais de 500%.
Entretanto, para começar a vender fora do país é preciso planejamento. No período de resseção, por exemplo, as empresas que saíram na frente nas vendas fora do Brasil foram as mais independentes, e que já vinham trabalhando de maneira continuada a entrada no mercado internacional. O agravamento da crise foi uma alavanca e compensou o desaquecimento da economia brasileira.
Atualmente, todos os estados brasileiros exportam produtos e serviços, entretanto, o que a CNI reforça é que a internacionalização não pode ser somente um escape num momento de crise. As empresas que têm consciência da importância do mercado exterior são, naturalmente, as que sofrem menos com as crises.
A alta do dólar e a internacionalização das empresas
Em 2020 vimos o dólar chegar à casa dos R$5,00 e, com a moeda valorizada desta forma, o que esperamos é o aumento das exportações brasileiras, e como consequência, a melhora no resultado da balança comercial.
Entretanto, antes de esperar resultados tão positivos, é importante saber que esta alta vem pautada em uma instabilidade política e de mercado que dificulta os negócios na prática. Com oscilações constantes, importadores estrangeiros e importadores brasileiros não conseguem determinar preços de compra e venda com o equilíbrio ideal para ambos.
Quem acaba sofrendo mais são os exportadores de manufaturas, porque eles precisam importar insumos para reduzir custos, e os exportadores que vendem para a Argentina, porque o país está em crise e comprando apenas o básico.
Quem ganha é o setor de commodities, porque seu preço é definido pelo marcado internacional, em dólar.
Bom momento para a internacionalização?
O câmbio está longe de ser o fator determinante para você avaliar se é hora de internacionalizar sua empresa, este não deve ser o principal fator de competitividade. Além do mais, de quando em quando as cotações sofrem alterações bruscas, que pode comprometer o valor e o destino de uma expansão mal planejada.
Se você já construiu uma base sólida para internacionalizar seu negócio, estimulando e mantendo a produtividade, entendendo como funciona o mercado no qual você quer investir e, independente do câmbio, tem um modelo de negócio sustentável por si só, você pode aproveitar o momento para investir.
Micro e pequenas empresas
É preciso levar em consideração também que nem só grandes empresas podem trabalhar com a exportação de produtos e serviços. As pequenas e microempresas precisam participar dessa dinâmica de mercado e se comprometerem com a estratégia de venda internacional. Para que isso aconteça, é preciso pensar em algumas adequações e investimentos:
- Capacidade de gestão
Empresas que tem centralizam todas as decisões em uma só pessoa, por exemplo, nem sempre conseguem manter os melhores padrões de gestão. A decisão de atuar em mercados externos exige que todos os colaboradores estejam trabalhando todo o seu potencial para tornar o negócio mais competitivo.
- Atualização tecnológica
Investir em tecnologia é imprescindível. As pequenas e médias empresas tendem a investir menos em atualizações tecnológicas, mas isso as torna menos competitivas perto das concorrentes que investem, por exemplo, em tecnologias de produção e interação.
- Adequação ao mercado externo
Dificilmente o mercado externo absorve o mesmo produto vendido no mercado pátrio. Na grande maioria das vezes é preciso fazer ajustes no design, layout, tipo de matéria-prima, e outros itens utilizados na produção de um produto. Características como dimensão, cores, embalagem, e muitos outros que formariam uma lista imensa, também podem ser alteradas, então é preciso ficar atento e estudar bem o mercado onde se pretende entrar.
- Financiamento da venda e da produção
No comércio internacional, as modalidades de pagamento são diferentes, e a logística não funciona como no Brasil. Ciclo de produção, venda, recebimento do pagamento, entrega, enfim, é tudo mais complexo. Isso implica numa demanda maior de capital de giro e adequação fiscal.
- Escala de produção
Alguns produtos, para entrarem em outros países, precisam ser exportados com uma escala de produção, por isso é preciso ficar bem atento para não oferecer produtos em lugares que não conseguirão atender.
- Controle de qualidade
Além de se adequar aos trâmites fiscais, as micro e pequenas empresas que queiram internacionalizar a marca precisam seguir um rigoroso controle de qualidade. Os importadores costumam queixar-se de receberem amostras de excelente qualidade, mas quando recebem as mercadorias em grande escala, percebem que a qualidade não foi mantida.
Além disso criar uma relação com o comércio exterior é diferente de manter a relação. Para isso, é preciso oferecer ainda um bom serviço de pós-venda e solucionar com agilidade possíveis problemas com peças, e manutenção do que está sendo vendido lá fora. Neste momento entram questões como: quem será a autorizada que prestará esse serviço?; vou abrir uma assistência técnica em outro país?; como vou capacitar pessoas para trabalharem com a manutenção do meu produto?; e várias outras questões.
Como pudemos ver a internacionalização não é um processo simples, mas é necessário e pode ser muito rentável, fazendo com o que a estrutura da sua empresa mude. Com planejamento, estudo e investimento as coisas dão certo e saem do lugar.