Dessalinização da água no Brasil: uma alternativa a ser considerada


Ao longo de sua história, o Brasil sempre pautou seu desenvolvimento econômico calcado em seus abundantes recursos naturais. Dentre eles a água, pela sua disponibilidade tanto na superfície terrestre como no subsolo, que sempre ocupou uma posição estratégica, agora se apresenta extremamente crítica. Além de seu uso nos grandes centros e na agricultura, a água é a base de praticamente toda a matriz energética do país.

 

Sua escassez, agravada recentemente pela imprevisibilidade da ocorrência dos ciclos chuvosos, chama a atenção para políticas públicas voltadas para novas alternativas de suprimento hídrico. Tais propostas, além de promoverem uma abordagem ampla, desde programas educacionais quanto a sua importância para a vida, deverão também apresentar alternativas inovadoras e até inéditas para o nosso cotidiano.

 

Frequentemente realizada por navios de cruzeiros, transatlânticos, submarinos e em alguns lugares do mundo, como no Oriente Médio, Austrália e Caribe, a dessalinização de água é um método que tem conquistado grande espaço no mundo com a procura cada vez maior por água potável.

 

A dessalinização consiste na remoção do sal que se encontra na água, tornando-a potável. Mas o método mais usado – a osmose inversa – não é exclusivo para a água do mar e pode também ser aplicado para o reaproveitamento da água do esgoto, ao tratar e retirar o sal, outros minerais e elementos indesejáveis.

 

Na Arábia Saudita, 70% da água utilizada para o consumo passa pelo processo de dessalinização realizado em Dubai. Nos Emirados Árabes, essa porcentagem aumenta para 95%. Nos países do Oriente Médio, grandes produtores de petróleo como o Kuwait, não possuem nenhuma reserva de água para o abastecimento das cidades. A falta de lagos, rios e aquíferos faz com que o Kuwait ocupe o primeiro lugar na lista dos países mais secos do mundo. Toda a água consumida pela população dessa região vem da dessalinização.

 

Essa realidade parece distante para nós brasileiros que sempre tivemos o privilégio de conviver com as duas maiores reservas de água doce do mundo, o Aquífero Guarani e Alter do Chão. Porém, um problema apontado por inúmeros especialistas atesta que, apesar de abundante, a água no Brasil é má distribuída, portanto a dessalinização deve ser sim considerada.

 

Em alguns locais como Fernando de Noronha, por exemplo, isso já acontece. A cidade é cercada pelo mar e tem a chuva como elemento fundamental para o abastecimento da ilha. Em tempos de seca a população sofria muito com os racionamentos constantes, em intervalos de até dez dias para o recebimento de água. Tal fato começou a prejudicar o turismo, maior fonte de renda local. Há dez anos, o sistema de dessalinização da água foi implantado no arquipélago. Nele, o açude do Xeréu armazena 200 mil litros cúbicos de água, o suficiente para garantir 41% do abastecimento da ilha e permitir a visitação de turistas o ano todo.

 

Entretanto, em épocas de seca mais forte como a deste ano, o açude não suportou a demanda sozinho e já existe uma licitação em andamento para ampliar a captação de água, que hoje vai de dez a 14 horas por dia, para 24 horas diárias. Estima-se que a obra custará R$ 4,7 milhões e ficará pronta em seis meses, mas o projeto ainda aguarda licença ambiental para ser executado.

 

Apesar dos recentes avanços e barateamento dos custos, a dessalinização ainda pesa no bolso. A membrana usada na tecnologia para a osmose inversa custa entre US$0,50 e US$1 por metro cúbico e investimentos na área são feitos somente quando não há nenhuma alternativa de abastecimento mais viável. Um exemplo disso é o estado de São Paulo, Rio de Janeiro, dentre outros, que poderiam usar o método inicialmente em projetos experimentais, optaram em percorrer o caminho mais módico e procurar água nas reservas mais distantes.

 

Pelo andar da carruagem, o fornecimento de água será um problema crescente. Entendemos que já é hora de pensar a médio e longo prazo e investir no futuro. As novas tecnologias estão em nossas mãos e soluções inovadoras surgem a todo momento. A abordagem é a mesma de que falamos em outro artigo, sobre a suficiência energética: agora é preciso, mais do que nunca, de atitudes ousadas e inovadoras para sobreviver num ambiente de alta imprevisibilidade e rápidas mudanças.