O legado da Copa


Depois de longo planejamento, inúmeras promessas grandes expectativas, cronogramas atrasados, obras inacabadas, falhas na comunicação, mal entendidos, manifestações públicas contrárias, que gerou um clima de descrença na população. Quando tudo apontava para um ”vai dar zebra geral” a mão abençoada do “deus brasileiro“ vem atuando de forma a mudar as previsões mais adversas, pelo menos no que diz respeito a aeroportos, segurança e organização geral.

 

Por outro lado já se acende uma luz amarela quanto à previsão de maior aquecimento na economia que de alguma forma se refletiria no Produto Interno Bruto (PIB) não atingirá os patamares esperados. Dados recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que a alta do PIB deve ficar em torno de 1,8%, menos da metade divulgada em abril de 2013, quando a previsão era de 4%.

 

Zebras à parte, o Brasil ainda pode se salvar um pouco, digamos na prorrogação. Um pequeno impulso no PIB deve ocorrer nos setores diretamente ligados ao grande evento, como alimentos e bebidas, hospedagem, publicidade e telecomunicações. Mas a realidade poderia ser outra caso os investimentos em infraestrutura tivessem sido maiores. Projetos como o de mobilidade urbana (se tivessem sequer saído do papel) deixaria o país em melhor vantagem.

 

Mesmo com as expectativas de ganhos na casa dos R$ 30 bilhões (soma considerável, mas irrisória perante as perdas notórias ao longo dos últimos tempos), a conta final deixa a desejar. Entre obras inacabadas e estádios fantasmas deve-se lembrar de que boa parte do investimento (85%) feito até hoje saiu de cofres públicos, oriundos do trabalho de uma grande parcela da população que não terá acesso nem agora, nem no futuro aos grandes estádios, aeroportos e demais obras destinadas ao evento.

 

Somado a isso fica a indignação de boa parte dos brasileiros, que não veem e nunca verão tal investimento em setores que precisam urgentemente de investimentos, como educação, saúde, moradia, transporte.
Se a Copa trará dinheiro para o Brasil, fica a pergunta, dinheiro para quem?

 

Em estudo realizado pela BDO, empresa de auditoria e consultoria especializada em análise econômica, estima-se que a FIFA terá arrecadação correspondente a US$ 5 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), a maior de sua história. Mas a FIFA não é a única dona do pote de ouro. Empreiteiras, patrocinadores, empresas de comunicação também garantiram o seu lugar ao céu.

 

Fica aqui um contraponto: estudos do economista britânico Stefan Szymanski em parceria com o jornalista britânico Simon Kuper, que resultaram no livro Soccernomics, demonstram que eventos como a Copa do Mundo e Olimpíadas não trazem tantos benefícios assim para a economia. Os autores analisaram dados do PIB de diversos países que sediaram grandes eventos entre 1972 e 2006. De acordo com a pesquisa, não há comprovação de que esses eventos sejam capazes de gerar crescimento econômico.

 

Será que nenhum dos dirigentes do nosso Brasil tinha conhecimento dessa pesquisa? Certamente, sim. Mas, eventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos tem historicamente demonstrado que a gama de benefícios que eles deixam vão muito além dos aspectos puramente econômicos.


O desafio que se apresenta é entender que se trata de algo maior, que transcende às questões político partidárias, com abrangência na imagem do pais que é sabidamente um dos fatores críticos para atrair a atenção dos empresários do mundo todo mostrando que aqui existe um solo fértil para expansão de seus negócios.

 

Para as autoridades governamentais, fica mais uma lição da arena do futebol: juiz bom é aquele que cumpre seu papel com eficiência. Passa despercebido. Não atrapalha o jogo.

 

Se devidamente aprendido, certamente este será um dos maiores legados deixados por esta Copa do Mundo.