Investimentos na Educação: esta política está no rumo certo?


A eleição de 2014 apresentou um curioso diferencial se comparada a de 2010, considerando que a atual situação tenha saído vitoriosa em ambos os pleitos: da chegada de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto para a sua reeleição, percebe-se que o eleitorado com diploma de ensino superior cresceu consideravelmente.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que no pleito anterior apenas 2,8 milhões dos votantes tinham terminado alguma graduação, enquanto em 2014 essa era a realidade de cerca de oito milhões de brasileiros, o que representa atualmente 5,6% do total de eleitores.

Também aumentaram de 2010 para cá o número de votantes com o ensino superior incompleto, com o ensino médio completo e com o ensino médio incompleto. O número de eleitores analfabetos, em contrapartida, diminuiu. Na eleição de 2014 eles representaram somente 5,1% do eleitorado, enquanto em 2010 correspondiam a 5,8% do total.

Tal eleitorado foi fundamental para a vitória da presidente nas urnas. Foram principalmente as políticas educacionais de Lula e de Dilma que conquistaram os votos da classe C, satisfeita com a iniciativa e resultados obtidos com as medidas.

 Além da ampliação dos institutos federais de ensino a partir do governo Lula, a implementação do PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), do FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) e do PROUNI (Programa Universidade Para Todos) permitiram um acesso massivo às universidades públicas e privadas, como nunca houve em todas as décadas anteriores.  

No entanto, precisamos olhar com certa cautela para esses programas. Dados do Orçamento Geral da União (OGC) demonstram que a Educação recebeu, em 2012, 3,34% sendo que em 2013 o número foi de 3,7% e correspondeu a 3,5% da verba total do governo em 2014.

Será que tal eleitorado, apesar de ter alcançado o ensino superior, está realmente apto para cursar uma faculdade e atuar plenamente no mercado de trabalho?

De acordo com um estudo da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) o Brasil aparece em penúltimo lugar no ranking de competitividade de 15 países. A produtividade no país é baixa e não cresce há dez anos e o principal fator é a dificuldade em capacitar os trabalhadores e ensinar novas tecnologias.

 

Baixos investimentos na educação básica

Todo o investimento observado na educação superior, entretanto, não parece se repetir no ensino fundamental e médio. Segundo levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com outros 31 países, o Brasil está em último lugar no ranking de investimento anual por aluno, que soma os gastos feitos ao longo dos anos com cada estudante no território nacional.

As iniciativas para o ensino superior não deixam de aparecer, mas o governo federal gasta apenas US$ 2.778 por aluno do ensino fundamental, enquanto o estudante do ensino médio recebe ainda menos: apenas US$ 2.571. A média dos países da OCDE é de US$ 7.974 para estudantes do ensino fundamental e US$ 9.014 para os do ensino médio. No ensino superior, o valor é quatro vezes maior que no ensino fundamental.

Tanta negligência com a educação básica acaba gerando frutos desagradáveis e inoportunos. De acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2012-2013 a evasão dos alunos das universidades é de 40% nas públicas e de 30% nas particulares. Essa desistência acaba se tornando uma infeliz constante, pois muitos estudantes chegam ao ensino superior com uma base muito fraca e defasada recebida no fundamental, o que vem sendo insuficiente para as exigências e cobranças que chegam nessa etapa da vida acadêmica.

Prova disso foram os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Vergonhosamente, em um universo de 6,2 milhões de participantes, apenas 250 obtiveram nota máxima, ou seja, 0,004% do total. Na outra ponta, quase 530 mil alunos tiraram nota zero.

De que adianta criar oportunidades para estudantes ingressem no ensino superior se estes não possuem conhecimento suficiente para cursar uma faculdade? Ou pior, chegam completamente despreparados no mercado de trabalho, provocando inchaço de mão de obra desqualificada e entraves na competitividade do país.

No entanto, como estratégia eleitoral, parece que funcionou bem, pois boa parte do eleitorado da atual presidente aplaude as medidas. Talvez, ainda não estejam preparados para compreender que educação de qualidade não é apenas ter um diploma na mão.

Mas e agora, como ficam as instituições de ensino superior com os cortes no ajuste fiscal? Em algumas universidades federais não há recurso nem para materiais de limpeza, energia elétrica ou água, muito menos para PROUNI ou PRONATEC.

Um pais desenvolvido se constrói com políticas públicas bem balanceadas com alcance de longo prazo e coerentes sem precisar “tirar coelho da cartola”. Bons exemplos a serem seguidos é o que não falta, basta dar uma olhada na Coréia do Sul, que há cerca de cinquenta anos atrás veio aqui no Brasil e copiou nosso modelo de ensino. Deu no que deu.

Sem vontade política para realizar o devido preparo o país está fadado ao fracasso e continuará sendo “o país do futuro”. Cansei!

Vamos ser humildes, assertivos e efetivos que ainda há tempo para virar este jogo.