A lição que deve ser aprendida com a atual crise econômica


Ficou no passado a cena de famílias despreocupadas e alegres com sacolas e carrinhos cheios nos supermercados, shoppings e centros de compra das cidades. Os números mostram um endividamento crescente dos consumidores brasileiros. E o problema atinge faixas de renda diferentes: famílias com ganhos até dez salários mínimos e acima de dez salários mínimos são devedoras.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias brasileiras com dívidas passou de 63% em julho deste ano para 63,6% em agosto. O percentual aumentou também na comparação anual: 63,1% em agosto de 2013 e 63,6% em agosto de 2014.  A diferença pode parecer pequena, mas o preocupante é a tendência ascendente.

Cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnês de lojas, empréstimos e prestações de carro e outros bens de consumo são os principais causadores do cenário.

A pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo mostra também que as famílias com renda até cinco salários são as que mais têm contas atrasadas (18,8%). E o pior: parte delas (7,9%) não tem condições financeiras de pagar o que deve e ficar com as finanças em dia.

A classe C, tão citada nos últimos anos como exemplo positivo na fase de ascensão econômica brasileira, é agora a que mais sofre com o aumento da inflação e restrições ao crédito.

O susto com as dívidas muda, aos poucos, o perfil do consumidor brasileiro. De acordo com pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), quase um terço (31%) dos consumidores agora planeja antes de gastar e se esforça para seguir os limites do orçamento.

Chamados de racionais, esses consumidores já representam boa parte da população economicamente ativa. Ao contrário dos compradores por impulso, eles pensam no futuro e deixam em segundo plano o valor simbólico dos produtos. Para os racionais, não faz sentido nenhum ostentar.

A desaceleração econômica contamina a campanha eleitoral presidencial, o que é traduzido na disputa acirrada entre as principais candidaturas e nas incertezas políticas para 2015.

Há um pessimismo dominante provocado pela crise. Analistas apontam o esgotamento do modelo de crescimento baseado no consumo e pedem mais investimentos em infraestrutura. Ao mesmo tempo, há forte expectativa em torno da mudança de rumo na política econômica do governo federal e a crença de que isso vai acontecer mesmo em caso de reeleição. O que não é mais uma questão devontade.  É imperativo! Caso contrário, restará descer os degraus do purgatório rumo a uma economia bolivariana com inflação alta, tabelamento de preços, falta de produtos, submissão das instituições democráticas e mordaça na mídia.

Consumo mais racional, ajustes na política econômica e corte de gastos no governo e no orçamento das famílias brasileiras estão nas previsões dos analistas para o próximo ano.

Ficou mesmo distante a visão dos centros de compras invadidos por consumidores. Por outro lado, essa situação mais equilibrada mostra a tendência para o amadurecimento de uma fatia da população antes pouco acostumada a lidar com o crédito e com o poder de compra.
   

Na disputa eleitoral, os questionamentos sobre o futuro feitos nos mais diversos tipos de debates também são prova do amadurecimento e da capacidade de escolher candidaturas com base em dados reais, análises e perspectivas, não apenas no marketing. Há uma crise é fato, mas ela pode ser didática para o país. Assim esperamos que seja. Quem viver verá!
Com a palavra o eleitor.